quinta-feira, 5 de maio de 2016

A LIDERANÇA POLÍTICA DE ANTÔNIO SOUTO FILHO (SOUTINHO)


Foto: Antônio Souto Filho, D. Chiquita com
os filhos, Souto Neto, Esther e Gerusa (no colo)
e a professora Celeste Dutra na casa da Praça
Dom Moura, 44.
Por Gerusa Souto Malheiros

O político e o alto funcionário do estado, se projetaram no mapa de Garanhuns, da qual ele foi um apaixonado.

Garanhuns, representou sempre para meu pai, o seu caminho, o seu espaço e a sua porta de ligação com o Brasil. Estava sempre de volta às suas queridas plagas, mas, mesmo de longe, conservava um “pied à terre” em Garanhuns.

Era fascinado pela natureza e pelo clima da sua terra.

A beira do seu túmulo, por ocasião dos seus funerais, um dos oradores, intérprete do povo de Garanhuns foi o jornalista Hibernon Wanderley, que naquele momento de consternação, evocou as serras e os montes de Garanhuns, encobertas pela garôa, uma maneira da natureza sentir a perda do mais ilustre e destacado homem público da sua cidade.

Inegavelmente, meu pai foi um representante de ação legislativa parlamentar de grande realce pelos seus projetos nas casas do Congresso. Nele existia um equilíbrio de seriedade e austeridade sobre a coisa pública.

O saudoso Alfredo Vieira, falecido há poucos anos, em seu livro “Garanhuns do meu tempo”, retrata com muito acerto, a vida pública do meu pai, cujo título é “Liderança Política”.

Antônio Souto Filho.
“Um  dos mais eminentes líderes políticos, que conheci ainda ao tempo, da chamada República Velha, foi o Deputado souto Filho, ou melhor Antônio da Silva Souto Filho; Curador de Órfãos da Comarca da Capital, Senador Estadual e Líder do Governo, no período anterior a Revolução de 1930; Deputado Estadual e Federal em várias legislaturas e representante à Assembleia  Constituinte  de 1933, nas eleições que seguiram após a Revolução.

Recebendo expressiva votação não só no Município de Garanhuns, mas, em várias cidades do Estado de Pernambuco, foi o único representante da oposição eleito e lhe foi assegurada a sua volta ao cenário político nacional.

O fato, constituía, sem dúvida alguma, a afirmação do seu prestígio, pois Souto Filho, era uma das figuras mais em evidência, do “tempo das oligarquias” como eram chamados todos os que militavam na política da antiga República Velha. A República Nova, que se iniciava com a vitória do movimento Revolucionário de 1930 e os integrantes da “Aliança Liberal” que defendiam os postulados de uma ação Renovadora da Política Nacional em todos os sentidos, traziam como um dos pontos fundamentais do seu programa, a Reforma Eleitoral com o “voto secreto” , arma que, decerto, daria ao eleitor a liberdade absoluta para escolher livremente os seus candidatos.

Souto Filho voltava ao cenário político com votação secreta, numa eleição  que os entendidos na época, declaravam ter sido a mais livre de todos os tempos, realizada em Pernambuco.

Souto Filho era ligado ao meu pai, por uma amizade vinda dos tempos da Faculdade de Direito e cimentada na política de Dantas Barreto. Começando na condição de Oficial de Gabinete do Governador Dantas Barreto, cargo de natureza política por excelência (naqueles tempos), o “dantismo” mandava para a Câmara dos Deputados do Estado, vinte e sete Deputados, entre eles, Souto Filho ( nota lembrada por Costa Porto, no seu livro “Os tempos de Dantas Barreto, página 83, comentando fatos ocorridos em torno de uma Rebelião interna do P.R.D. nos idos de 1915).

Garanhuense, nascido na Região “Mochila”, hoje município de Brejão, era filho do Coronel Antônio da Silva Souto, também político atuante no município de Garanhuns. Herdeiro das qualidades políticas do seu genitor na inteligência e na argúcia, com maior vivência dos problemas políticos e sociais do seu tempo, o Dr. Soutinho, como lhe chamavam os mais íntimos, foi indiscutivelmente por muito tempo, o “cacique mór” da política de Garanhuns e um dos seus mais legítimos representantes.

A Revolução de 1930 o encontrou em Garanhuns, e, quando teve conhecimento de que as forças políticas da Capital, se desorganizavam culminando com a fuga do próprio governador Estácio Coimbra, que abandonou o Palácio do Campo das Princesas, em rebocador para se refugiar na cidade de Barreiros, Souto Filho se apressou em entregar a Prefeitura Municipal de Garanhuns da qual, o seu cunhado Coronel Euclydes Dourado era Prefeito, à Junta Militar Revolucionária, composta de José Gaspar da Silva, Fausto Lemos e Mário Lyra. Souto Filho, entregava materialmente, a Prefeitura de Garanhuns, porém jamais abdicou a sua chefia política, tanto assim que conforme salientamos fora eleito por votação secreta, no primeiro pleito eleitoral que se seguiu à vitória da Revolução.

Souto Filho, apesar de ligado aos compromissos dos que dominavam o poder político anterior a Revolução de 1930, via-se eleito para a Constituinte de 1933, dentro dos novos processos da República Nova, numa afirmação incontestável à sua argúcia política, não deixando herdeiros diretos para a continuação da política que praticou e realizou durante longos anos em Garanhuns, em torno do seu nome e do seu prestígio. Entre outros gravitavam os integrantes da família Branco, cujo maior expoente foi o Deputado Elpídio de Noronha Branco, ligado também ao grupo de Eurico de Souza Leão, ex-chefe de polícia do governo Estácio Coimbra e também figura de proa nos governos anteriores; Antônio Café e seus amigos; a família Leal. Em verdade todos viviam politicamente em torno de sua pessoa.

A partir de 1933, já no Recife, preparando-me para ingressar na Faculdade de Direito do Recife e, mais tarde repórter do “ O Estado” jornal de oposição ao governo Lima Cavalcanti, de propriedade do usineiro Fileno de Miranda, frequentava assiduamente a casa de Souto Filho, à Rua Joaquim Nabuco, Capunga, onde hoje se ergue o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Em sua companhia, travei conhecimento com outros políticos do antigo P.R.P. entre eles doutor Arnaldo Olinto Bastos, Renato da Silveira, Genaro de Barros Guimarães, professor Edgard Altino de Araújo e outros próceres alijados pela Revolução, que procuravam articular um novo candidato para o futuro governo do Estado, cujo nome mais cotado era o de João Alberto Lins de Barros, ex-tenente de 1922 e 1924 e ex- interventor de São Paulo, no início do governo Vargas.

Iniciando-me no contato com “velhas raposas políticas”, quando sozinho, o deputado Souto Filho analisava os acertos e desacertos, dos seu correligionários políticos, com aquela argúcia que lhe era peculiar. Em certa ocasião, com a natural timidez do aprendiz de “frasquinho de veneno”, com que o mimosearam nas crônicas políticas, os seus adversários.

Respondeu-me que era também nos pequenos frascos (frasquinhos) que se guardavam os melhores perfumes. O deputado Souto Filho, era realmente de pequena estatura, franzino e falava com certa mansidão. Sabia ser sóbrio , quando era necessário sê-lo, porém veemente na defesa dos amigos e das teses que apoiava. A sua casa vivia sempre cheia de correligionários e de amigos e nas conversas ali realizadas, sempre se aprendia alguma coisa. Certa vez, quando estranhava não ter havido revide de sua parte a certa afirmação de um dos seu opositores, respondeu-me com a seguinte frase; “seu” Alfredo, aprenda que o político para ser realmente político, é obrigado as vezes, a engolir sapos, sem vinho do Porto. Essa expressão, ouvi muitos anos mais tarde, repetidas vezes, no “Solar do Benfica”,  residência do meu querido e saudoso amigo, Senador Novais Filho, ao lembrar-lhe a necessidade de um revide mais forte a uma crítica contundente de seus adversários políticos.

A nossa amizade pessoal com o deputado Souto Filho e seus familiares, jamais sofreu solução de continuidade. Vinha de pai para filho, respaldada numa mútua confiança, até o final dos seus dias.

Vitimado por uma síncope cardíaca, (naqueles tempos não se usava a expressão parada cardíaca) Souto Filho, faleceu no Recife, em 19 de junho de 1937, em sua residência, na Avenida Osvaldo Cruz, 281, na condição de líder da oposição, na Câmara Estadual.

Casado com a senhora Francisca Salgado Guedes Nogueira Souto, na intimidade chamada carinhosamente de D. Chiquita Souto, deixou os seguintes filhos: senhora Maria Esther Souto, professor Antônio Souto Neto, médico, analista, professor catedrático do Ginásio Pernambucano e há vários anos seu Diretor, senhora Maria Gerusa Souto Malheiros, casada com o engenheiro Raul Malheiros e professor Cláudio Fernando da Silva Souto, professor catedrático da Faculdade de Direito do Recife.

A senhora Souto Filho, faleceu também no Recife, em 11 de outubro de 1967. Em verdade, em toda a sua vida, o  deputado Souto Filho, fez “escola política”. Pena é que não tenha deixado herdeiros diretos da sua argúcia política e que os seus correligionários e amigos, não tivessem aprendido bem as suas lições, para melhor servirem aos interesses comunitários de sua terra e de sua gente”.
Fonte: Livro "Memórias de Amor" de Gerusa Souto Malheiros, filha de Souto Filho.

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