Retratos
Rinaldo Souto Maior
Ao Poeta e "Mochileiro" José Inácio Rodrigues (em memória- foto)
Na Boa Vista vejo, no alto da casa
paroquial, bebendo vinho de missa,
padre Cornélio e o boêmio Zé Catão
Na voz langorosa de Wilson da Mota
o poema intangível de Hélio Peixoto,
ressuscitando todos ouvidos:
"Garanhuns terra dos seus avós, terra
das manhãs frias e dos bonitos arrebóis"...
Ao fundo acordes musicais de violão
de Euclides Pernambuco.
Velhos retratos malogrados e pelo
tempo amarelecidos que, de repente,
em minhas lembranças, tomam forma.
Revivem fortes cores, multicoloridas,
nas entranhas recordadas. Esses retratos...
Refazem imaginações e espectro do passado.
Conta-corrente acessa apenas pela chama
temporal do sucesso - o mundo somente
reconhece êxitos e não perdoa malogros,
na verdade de um filósofo chinês.
Contabilização difícil do passado com
o presente, na aritmética heterogênea
das pessoas. Que se somam menos.
Então poeta que em São Paulo nasceste de
migrantes nordestinos, "mochileiros"
quatrocentões da boa cepa garanhuense?
Quantas coisas tens recitado em todos
entreveros das lutas empreendidas, das
vitórias auferidas, e dos malogros também amargados?
Tudo isso na multiplicação de tantos "amigos meus,
amigas minhas" no refrão do boa-noite radiofônico em
que evocas o passado, perenizando-o no presente!
Grande Zé do Povo. Faltou na tua despedida todos àqueles que efetivastes no serviço público na tua gestão. Quantos estiveram no teu funeral? poucos. A amnésia para as boas coisas é real e endêmica. Parte em paz, vai e compõem parte do infinito que é a nossa herança.
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