A CAPITANIA DO ARAROBÁ:
Chamava-se Ararobá à região montanhosa que compreendia as Serra do Cachorro, Serra do Ararobá, Serra do Gavião e Serra do Jacarará. Abrangia, mais ou menos, os atuais municípios de Pesqueira, Arcoverde, Brejo da Madre de Deus e Poção.
O nome Ararobá vem de urubá, corruptela de uru-ibá (gênero de aves galináceas que existiam na região), foi dado pelos índios, primitivos habitantes da serra do Ororubá localizada no município de Pesqueira.
Esta região, desde 1654, pertencia a João Fernandes Vieira, um dos líderes da Insurreição Pernambucana e figura importante da restauração pernambucana contra o domínio holandês.
João Fernandes Vieira vendeu uma parte desta propriedade a Manoel da Fonseca Rego. A outra parte, doou aos padres da Congregação do Oratório de São Felipe Neri. Passado um tempo, os padres compraram a parte pertencente a Manoel da Fonseca Rego.
No Planalto da Serra do Ararobá , os padres instalaram a Missão do Ararobá destinada a dar assistência aos índios xucurus, e também, com o objetivo de desbravar e cultivar a terra. Tudo sobre a proteção de Nossa Senhora das Montanhas, em homenagem a quem erigiram uma capela. Em volta da Capela se formou um povoado que foi chamado de Monte Alegre.
Em algum momento impreciso da história foi criada a Capitania do Ararobá. Há um documento de 1691, a Carta de Sesmaria do Tenente Manoel da Fonseca Rego e Companheiros, que faz referência ao co-sesmeiro Matias Sicio como sendo o capitão-mor do Ararobá.
Se existia um capitão-mor, por certo, naquela época Ararobá já era uma Capitania. O capitão-mor, além de funções militares, era responsável por representar o governo e chefiar a administração pública na capitania.
Não se sabe ao certo onde era a sede da Capitania. O historiador Alfredo Leite Cavalcanti analisou alguns documentos e deduziu que a capitania teria sido criada somente a partir de 1700 e que a sede da capitania era na atual Garanhuns.
Outro importante historiador, Nelson Barbalho, deduziu que a criação da Capitania do Ararobá antecede o ano de 1691 e que a sede era mesmo o Povoado de Monte Alegre, atual Cimbres no município de Pesqueira por que nesta época, lá já havia habitantes, casas, igrejas e um capitão-mor. Ao passo que Garanhuns era a Fazenda do Garcia, não havia povoados, e estava às voltas com os problemas relacionados a fuga de escravos, formação de quilombos e perseguição de quilombolas etc.
É possível que somente após este período, a sede da Capitania do Ararobá tenha se transferido para Garanhuns. E, por este motivo, várias autoridades tenham sido removidas para a região: Um Capitão- mor que era o Comandante Superior, um Juiz Ordinário, um Tabelião, dois meirinhos(funcionários judiciais); um Vigário e uma força de milicianos. Ao todo foram construídas cerca de 15 casas para as residências destas pessoas, sendo que uma das casas construídas servia de cadeia. Tudo leva a crer que o ponto escolhido para a construção das casas foi o local onde hoje é a Praça Irmãos Miranda.
Construiu-se , também, a Igreja Matriz de Santo Antonio, mais ou menos, no local onde hoje é o Banco do Brasil, na Avenida Santo Antonio. Nesta mesma, avenida, reservou-se um local para o cemitério.
Neste período, a maioria das pessoas moravam nas fazendas ou sítios. No povoado, moravam apenas ferreiros, carpinteiros, arreeiros e pequenos comerciantes. Muitos fazendeiros construíram casas no povoado a fim de nelas passarem as festas religiosas ou estagiarem.
A jurisdição deste Julgado do Ararobá se ampliou muito, incluía os atuais municípios de Garanhuns, Arcoverde, Pesqueira, Poção, Sanharó, Inajá, Buíque, Pedra, Alagoinha, Custódia, Bonito, Altinho, Panelas, Lagoa dos Gatos, Maraial, Cupira, Agrestina, Catende, São Bento, Lagedo, Canhotinho, Angelim, Bom Conselho e outros mais.
Devemos lembrar que Garanhuns não teve fundação, ela surgiu gradativamente. Pelos idos de 1696, houve uma completa mudança nessa região. Foi instalado um distrito judiciário sob a forma de julgado, pelo Governador da capitania na época; antes, qualquer ato judicial era resolvido em Brejo da Madre de Deus. Com o distrito instalado, facilitou mais aos habitantes dessa região, para resolverem os seus casos judiciais.
Deu-se o nome ao lugar com o distrito instalado da Capitania do Ararobá. Também foi criada uma freguesia ou paróquia, sob a forma de curato, com o nome de Freguesia de Santo Antônio do Ararobá, isso em 1700, a mesma se aderiu ao julgado.
A SESMARIA DOS ARANHAS:
A capitania de Pernambuco foi repartida em várias sesmarias. A atual cidade de Garanhuns pertencia ao território da Sesmaria dos Aranhas, que assim se chamou por ter sido doada em 29/12/1658, à pessoas da família Aranha: Nicolau Aranha Pacheco, Antonio Fernandes de Aranha e Ambrósio Aranha de Farias.
O mestre de Campo Nicolau Aranha Pacheco foi uma importante figura nas guerras de restauração do território pernambucano que estava sob o domínio holandês.
A Sesmaria dos Aranhas abrangia a área onde hoje estão situados os municípios de Águas Belas, Buique,(região do Rio Ipanema e do Rio Moxotó) e Garanhuns, etc. Uma região de terras férteis e rios perenes.
Nesta Sesmaria foram fundadas fazendas e sítios: Fazenda da Lagoa (Buíque) e a Fazenda do Garcia e os sítios Flamengo e Buraco (Garanhuns).
A Fazenda do Garcia foi assim denominada por ter sido fundada por Antonio Garcia que era o foreiro dos Aranha Pacheco no Campo dos Garanhuns.
O nome Garanhuns origina-se, provavelmente, dos primitivos habitantes desta região, uma tribo indígena do grupo linguístico Cariri , chamada garanhus, descoberta por Gabriel de Brito Cação, que recebeu como prêmio pela descoberta, a propriedade denominada Sítio do Buraco.
Este período, coincide com a fuga dos negros dos engenhos de açúcar e formação de quilombos e mocambos em várias regiões da capitania.
Os quilombolas costumavam pegar alimentos às escondidas das plantações e dos engenhos existentes em regiões próximas. Isto incomodava muito os habitantes.
Na região da atual Garanhuns formou-se o Quilombo do Magano, uma extensão do Quilombo dos Palmares de Alagoas que foi destruído por tropas do Bandeirante Domingos Jorge Velho.
Durante a fuga dos escravos e a posterior perseguição a Fazenda do Garcia foi tão depredada que passou a ser chamada de Tapera do Garcia.
SIMÔA GOMES DE AZEVEDO:
Avenida Simôa Gomes de Azevedo em Garanhuns, homenagem à nossa heroína. |
Com o fim da Guerra dos Palmares, começaram a chegar a esta região muitos negros e índios perseguidos. A mesma foi se povoando e formando diversas comunidades negras, ou pequenos quilombos, como também mocambos.
Com a vitória, Domingos Jorge Velho ganhou como prêmio uma sesmaria de seis léguas de terra. Não querendo aqui ficar, entregou tudo ao seu filho, Miguel Coelho Gomes.
Tudo isso aconteceu em 1694. Domingos Jorge Velho não era flor que se cheirasse, foi um cruel perseguidor e assassino de índios e negros. Sua maldade era sem limites.
Simôa Gomes nasceu em dezembro de 1693. Filha do Sr. Miguel Coelho Gomes com uma índia Cariri, da tribo dos Unhanhú. Neta de Domingos Jorge Velho e Dona Jerônima Fróes.
Simôa Gomes herdou sua parte de terra, ao falecer seu marido, Manoel ferreira de Azevedo, em 1729. Em 1756, Simoa Gomes já viúva , através de Escritura Pública doou uma parte de terra da Fazenda do Garcia à Confraria das Almas da Igreja Matriz da Freguesia de Santo Antonio do Ararobá, a atual igreja Matriz de Garanhuns. Simôa Gomes faleceu em 1763.
A igreja foi erguida sob a égide de Santo Antonio, possivelmente em homenagem ao fundador da Fazenda, Antonio Garcia.
As Confrarias eram grupos de pessoas que se associavam para promover a devoção e o culto a um santo. Às vezes erigiam um altar em algum lugar, e às vezes já havia uma capela dedicada ao santo e a função da Confraria era cuidar e zelar pela capela.
Além disso, os membros da Confraria se ajudavam mutuamente, promoviam sepultamentos, oravam pelas almas dos falecidos, cuidavam das viúvas e dos órfãos etc.
Havia, também, pessoas que designavam a sua própria alma como herdeira de seus bens. Assim, doavam seus bens à Confraria, e, depois de sua morte, a Confraria administrava aqueles bens e orava pela alma da pessoa que doou. Desta forma, o doador, garantia a realização de missas pela sua alma, para que ela se salvasse no juízo final.
Em 10 de março de 1811 o Povoado de Santo Antonio dos Garanhuns passa à Vila. Segundo o historiador Alfredo Leite Cavalcanti, a esta altura já havia um povoado com 156 prédios na propriedade da Confraria, que desde 1813 já se chamava Vila de Santo Antonio de Garanhuns.
Mas, ao que parece, depois da morte de Simôa Gomes, os membros da Confraria esqueceram o combinado. O deputado Austerlino Correa de Castro contou ao seu neto, o vereador Fausto Souto Maior e este mandou escrever, o seguinte fato: "Em 1855, o Juiz de Direito Dr. José Bandeira de Melo, verificando o estado de abandono do patrimônio doado por Simôa Gomes, instaurou um processo que determinou o sequestro e a incorporação dos bens ao Patrimônio Nacional, a sentença saiu em 26 de Julho de 1855".
Em 1872, o Juiz de Direito, Antônio Manoel de Medeiros Furtado, regularizou a cobrança do foro e os pagamentos das missas para as almas, supondo-se que tenha sido anulada a sentença do sequestro do patrimônio da Confraria das Almas, mas tudo indica que em nada resultou por que não existem documentos que comprovem essa anulação.
Assim nasceu Garanhuns no seio da propriedade doada por Simôa Gomes de Azevedo à Confraria das Almas.
Fonte da pesquisa: "Livro Garanhuns em Versos" de Luiz Gonzaga de Lima - "Gonzaga de Garanhuns" e do blog http://terradomagano.blogspot.com.br.
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