Aguerrida, ousada, forte, coerente, passional, corajosa, inteligente. Esses e muitos outros foram adjetivos usados por políticos pernambucanos para qualificar e relembrar a jornalista, professora e deputada federal Cristina Tavares. Em 23 de fevereiro de 1992 um câncer calaria de vez aquela que foi uma das principais vozes da oposição à ditadura militar no Congresso Nacional. Mas que, mesmo passado tanto tempo, não parece ter perdido força na memória política pernambucana, sempre lembrada pelas posições firmes que defendia e atuação em defesa da redemocratização, das eleições diretas, direitos das mulheres e dos trabalhadores.
Primeira mulher pernambucana a ocupar uma das 513 cadeiras do plenário da Câmara Federal, os 20 anos do falecimento de Cristina Tavares coincidem de ocorrer na mesma semana que se celebra os 80 anos da publicação do Código Eleitoral Provisório, que garantiu às mulheres o direito do voto, ainda na Era Vargas.
Nasceu em Garanhuns, a 10 de junho de 1936, Cristina é filha de José Tavares e Maria Mercês. Como jornalista, foi repórter do Jornal do Commercio, do Diario de Pernambuco e da sucursal pernambucana da Folha de São Paulo. Militou no então MDB na ala conhecida como “Movimento Autêntico” ao lado de nomes como Jarbas Vasconcelos e Ulysses Guimarães, de quem foi assessora e foi aquele que a convenceu a concorrer a um mandato eletivo. Acumulou três consecutivos como deputada federal de 1979 a 1991.
Como parlamentar, apresentou 139 projetos, proferiu 334 discursos, participou de duas Comissões Permanentes como membro titular e outras duas como relatora. Integrou ainda três Comissões Parlamentares de Inquérito, entre elas a que apurou as cheias do Rio São Francisco em 1980. Cristina também foi membro da Assembléia Nacional Constituinte, que de fevereiro de 1987 a outubro de 1988 elaborou a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Destacou-se na relatoria da subcomissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação.
O ex-deputado estadual Pedro Eurico considera Cristina Tavares uma das figuras que mais marcaram sua trajetória política. Ele relembra um curioso ato no qual jogaram um caixão cheio de pedras no Rio Capibaribe simbolizando o enterro das eleições indiretas de 1985. Depois de alguns momentos de relutância em afundar, que deixou Cristina apreensiva, a urna mortuária finalmente cedeu, para alivio dos manifestantes. “Algum tempo depois, ela se reuniu com o Dr. Tancredo Neves e saiu convencida de que as eleições indiretas representavam um avanço, um passo necessário. Isso demonstra que apesar de radical na defesa de suas posições, Cristina também era uma mulher racional, muito inteligente, que sabia ceder”, ponderou Pedro Eurico.
Em 1988 ela se desliga do PMDB, onde havia militado por toda sua carreira política, para participar da fundação do PSDB em Pernambuco. Nas eleições daquele ano compôs chapa como vice na candidatura do ex-deputado Marcos Cunha (PMDB) à Prefeitura do Recife. Derrotada nas urnas por Joaquim Francisco (PFL), voltou à Câmara Federal e em 1989 entrou em conflito com seu novo partido por conta da filiação e indicação do nome do ex-governador Roberto Magalhães para ser candidato à vice do candidato presidencial Mário Covas, uma pressão da cúpula nacional do partido. “Localmente, Roberto era um nome estranho para Cristina e ela não se adaptou a decisão e achou melhor sair”, lembrou João Braga, outro fundador do PSDB no Estado. A chapa formada por Covas e Magalhães não chegou a se concretizar.
Após abandonar o ninho tucano, Cristina juntou-se ao PDT de Fernando Lyra e apoiou a candidatura de Leonel Brizola e Lyra no pleito presidencial. Não conseguiu se reeleger nas eleições gerais de 1990, quando obteve 14.903 votos. Saiu da Câmara dos Deputados no inicio de 1991, com a troca da legislatura, e faleceu em Houston (EUA) pouco mais de um anos depois, no dia 23 de fevereiro de 1992.
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